domingo, abril 30, 2006

Para um amigo que perdeu outro

É sempre nos momentos mais díficeis que as palavras me faltam. Parece que sofro de uma total incapacidade de ajudar os outros nos piores momentos. Mas as palavras estão lá (só não saem). Estas, sabia que estavam guardadas algures numa estante. Já foram lidas hà algum tempo mas nunca foram esquecidas.
Aos amigos dizemos quase sempre "Até já" mas por vezes temos que dizer "Adeus"...

A primeira canção com lágrimas

Meu amigo morreu. Meu amigo partiu
Na madrugada fria, fria meu amigo (dizem)
agora habita a verde catedral de um bosque
Meu amigo morreu. Meu amigo não volta

Meu amigo dizia (estou a ouvi-lo)
vou procurar minha estrela. Foi
e não voltou. Meu amigo (dizem)
tem agora o tamanho de uma estrela.

Meu amigo não volta. Eu estou mais velho é certo.
Amigo é uma palavra com aldeias dentro
com lâmpadas sinais do amigo
para dizer-nos: estou aqui.

Eu estou mais velho é certo. Meu amigo morreu.
Amigo é uma palavra agora com aldeias tristes
estas paragens percorridas pela ausência
sem lâmpadas (com lágrimas com lágrimas)

Meu amigo partiu para o espaço da noite
e há uma viola dentro da tristeza
neste verde lugar onde a noiva anoitece.
Nunca mais voltará. (Porque morreu?)

Manuel Alegre.
Praça da canção