quarta-feira, setembro 27, 2006

Saudade

Já os vi todos. Todas aquelas pessoas que fizeram o meu passado ano lectivo do curso de medicina começar a parecer-se com um curso de medicina andam por lá pelo hospital. Fico contente. Já revi os meus professores/tutores/amigos. Faltas tu.
Já deveria saber pois o contrato era esse.
-Um ano - disseste-me há um ano
- Vou ficar durante um ano. Vim de erasmus.
Eu mostrei-te a cidade, o rio, as ruas, as pessoas e os poetas. Desenhei-te os precursos e aperfeiçoei-te a língua.
Tu. Tu cegaste-me com uma luz que eu não voltarei a ver.
Somos amigos.
Hoje sinto saudade. Porque saudade é uma palavra portuguesa. É quando se sente a falta de alguém. Dizem que é triste. Não sei. Sei que um dia vou ter contigo.
Porque sinto saudade

sexta-feira, setembro 22, 2006

Três meses depois

... recebi a tua mensagem mas para mim é totalmente indiferente aquilo que vais fazer.
Ficares lá ou voltares é-me totalmente indiferente. O tempo tem o mesmo efeito que o espaço e no nosso caso foram ambos. Eu, vou voltar à minha velha vida.
Aqui

sábado, maio 06, 2006

Serei menos médico hoje do que o era ontem?

Na passada sexta feira (06/05/05) a tão esperada nota do exame realizado no dia 22 de Abril finalmente saiu e lá estava eu a olhar para um número de dois dígitos tal como Antunes olhou pela primeira vez para a sua Judite:
“O Antunes arranjava sorrisos, gostava de dizer qualquer coisa para quando há daqueles momentos, queria sobretudo ser como um de quatro àquela mesa. Ele já o tinha reparado: só sabia estar atrás, no passado, até ontem, o mais tarde até entrar naquela sala. Tudo o mais era imprevisto, não estava no seu programa, ele bem não queria ter vindo. Mas já que estava, ele gostava de poder estar. Nunca na sua vida fizera um esforço tão grande como agora.
Inútil. A primeira vez é a primeira vez. Amanhã fará melhor. E sorria-se. Não sabia porquê, mas sorria-se. Sorria-se indistintamente…”(
Nome de Guerra de Almada Negreiros ).

Chumbei à frequência. Nunca fui uma pessoa muito preocupada com as notas, mas a experiência de uma nota negativa apanhou-me de surpresa, e sendo uma cadeira de Clínica Médica, a surpresa foi dupla (é sem dúvida a minha preferida). Passei o dia a questionar as minhas qualidades de pessoa, de aluno e de futuro médico. Na tentativa de perceber o que me tinha acontecido só chegava a duas conclusões: se por um lado a elevada taxa de reprovações justificava o acontecimento, por outro não conseguia arranjar justificação para a aprovação que outros colegas obtiveram na dita disciplina. Ou seja estava já a cometer o pior dos vícios e aquele que mais tento evitar: tentar compreender a situação olhando para os outros, esquecendo aquilo em que eventualmente poderia ter falhado. Por vezes faz-se luz e consigo ver a situação de uma forma muito clara mas essa clareza é substituído pela angústia da frustração e da inoperância. Sou por vezes invadido por uma sensação de incapacidade e até inutilidade(já está a tornar-se o hábito das sextas feiras). Aquela nota não me sai da cabeça. Ainda tento perceber onde errei.

São 2:36 do sábado seguinte.
“Hey, kids- look at this
it´s the fall of the world´s own
optmist”

Canta agora Aimee Mann no leitor de CD. Espero que amanhã esta melodia seja substituída pelo “Pick yourself up”. Porque a vida é assim. Caímos e levantámo-nos.

domingo, abril 30, 2006

Para um amigo que perdeu outro

É sempre nos momentos mais díficeis que as palavras me faltam. Parece que sofro de uma total incapacidade de ajudar os outros nos piores momentos. Mas as palavras estão lá (só não saem). Estas, sabia que estavam guardadas algures numa estante. Já foram lidas hà algum tempo mas nunca foram esquecidas.
Aos amigos dizemos quase sempre "Até já" mas por vezes temos que dizer "Adeus"...

A primeira canção com lágrimas

Meu amigo morreu. Meu amigo partiu
Na madrugada fria, fria meu amigo (dizem)
agora habita a verde catedral de um bosque
Meu amigo morreu. Meu amigo não volta

Meu amigo dizia (estou a ouvi-lo)
vou procurar minha estrela. Foi
e não voltou. Meu amigo (dizem)
tem agora o tamanho de uma estrela.

Meu amigo não volta. Eu estou mais velho é certo.
Amigo é uma palavra com aldeias dentro
com lâmpadas sinais do amigo
para dizer-nos: estou aqui.

Eu estou mais velho é certo. Meu amigo morreu.
Amigo é uma palavra agora com aldeias tristes
estas paragens percorridas pela ausência
sem lâmpadas (com lágrimas com lágrimas)

Meu amigo partiu para o espaço da noite
e há uma viola dentro da tristeza
neste verde lugar onde a noiva anoitece.
Nunca mais voltará. (Porque morreu?)

Manuel Alegre.
Praça da canção

quarta-feira, abril 26, 2006

Repugna-me

Queria expressar aqui a minha profunda indignação acerca da forma como a imprensa tratou o caso do jovem que participou numa série da TVI e que foi vitima de um acidente de viação que de uma forma abrupta e estúpida lhe interrompeu a vida aos 22 anos de idade. Fiquei acidentalmente a saber (porque realmente desconheço a série e não faço a mínima intenção de perder um segundo do meu tempo com lixo televisivo) que tinha morrido um “actor” dos Morangos com Açúcar e que o funeral ia ter uma cobertura em directo com helicópteros a sobrevoarem o local na tentativa de obter o melhor plano possível.
O que é que a televisão pretende com tudo isto?
Mais um reality-show?
O funeral dos famosos?
Qual será o próximo passo?
Encontrar pessoas famosas em estados de doença terminal e colocá-los todos numa enfermaria à espera que morram enquanto filmam tudo emdirecto?
É intolerável que se permita que uma situação de dor e desespero seja aproveitada de uma forma tão vergonhosa por um veículo de informação. Mas os índices de audiência devem ter disparado e como nestas situações os fins justificam os meios, provavelmente ainda vamos ser presenteados com uma reposição do funeral e com uma versão em DVD. Eu usei o termo vamos. Mas desculpem porque me enganei. Alguém poderá ser. Não eu.
A mim repugna-me.

We live in a beautiful world

Impressionante como quando terminamos um exame ficámos com uma perspectiva diferente das coisas (agora é esperar pela nota). Aqui vai. Dos Coldplay

Bones, sinking like stones,
All that we fought for,
Homes, places we've grown,
All of us are done for.

And we live in a beautiful world
,Yeah we do, yeah we do,
We live in a beautiful world,

Bones, sinking like stones,
All that we fought for,
And homes, places we've grown,
All of us are done for.

And we live in a beautiful world,
Yeah we do, yeah we do,
We live in a beautiful world.

Here we go, here we go

And we live in a beautiful world,
Yeah we do, yeah we do,
We live in a beautiful world.

Oh, all that I know,
There's nothing here to run from,
'Cause everybody here's got somebody to lean on.

domingo, abril 09, 2006

Domingo? Que domingo?..

Não posso crer.
Hoje já é domingo e tenho que estudar, estudar, estudar.
Por vezes este curso torna-se uma seca.
Alguém me pode indicar se existe um método (simples) de saber o Harrison sem ter de o ler @:) .
Agradecia.
Dou recompensa.

quinta-feira, abril 06, 2006

Os instintos de Sharon Stone

Após o início de carreira em 1980 com o filme de Woody Allen "Sardust memories" (quem diria) até 1992, ano de estreia de "Instinto fatal", Sharon Stone teve uma carreira que não definiria como medíocre mas sim irrelevante. Com o papel da psicopata Catherine Tramell em "Instinto fatal" parecia que as coisas iriam mudar para a actriz: o filme co-protagonizado por Michael Douglas foi um estrondoso sucesso de bilheteiras e para Stone foi sem dúvida a porta de entrada para as tão desejadas super-produções cinematográficas de Hollywood. Reza a lenda que a famosa cena do descruzar de pernas foi a mesma que no final das filmagens gerou enorme discussão entre a actriz e o relizador Paul Verhoeven uma vez que esta não a queria ver incluida na montagem final pois achou-a muito ousada (essa cena tornou-se quase a imagem de marca de Sharon Stone e rendeu-lhe milhões quando foi usada num spot publicitário seu a uma conhecida marca de whisky). O que se seguiu a "Instinto fatal" foi uma série de escolhas de papéis mais ou menos adaptados ao perfil da loira fatal que era alvo de paixões e obsessões numa sequência de filmes que rasavam entre a qualidade média e medíocre. Ou seja a carreira da actriz não tinha evoluído 1 mm.

Foi por fim no ano de 1995 no "Casino" de Scorcesse que Sharon Stone apostou toda a sua carreira. E ganhou! Dirigida por um dos grandes mestres da sétima arte Stone conseguiu por fim com este filme ter um papel que lhe viria a trazer algum respeito dentro da indústria cinematográfica e da crítica em geral. A interpratação da prostituta que infernizava a vida de Robert de Niro valeu-lhe a nomeação em 1996 para um óscar da academia na categoria de melhor actriz num papel principal. A sua principal concorrente era outra "prostituta" interpretada por Elisabeth Shue mas foi a "freira" Susan Sarandon que lhes levou a melhor (ganhou nesse ano pela sua interpretação em "A última caminhada" de Sean Penn). Sharon Stone nunca chegou a pôr as mãos na desejada estatueta dourada.

Seguiu-se o declínio. Nem o já tão comum "melhor ordenado conseguido até então por uma actriz" nem uma série de remakes nos quais se incluiam o filme de 1980' "Gloria" de John Cassavettes (dirigido agora por Sidney Lumet) e "Diabolique" conseguiram chamar a atenção do público e da crítica e a carreira da actriz voltou a sofrer um retrocesso. No ano de 1999 a actriz iniciou uma série de escolhas tão mal feitas que a deixaram quase totalmente esquecida no panorama cinematográfico e o seu nome raramente ou nunca aparecia associado a um relizador de renome ou a um projecto de sucesso quer do ponto de vista comercial como da crítica.

Quis o horóscopo que o mesmo sucedesse com a esperada sequela de "Instinto fatal". O filme estreou na passada quinta feira (06/03/30) nos EUA e nem a esperança de voltar a ver Sharon Stone a descruzar as pernas (porque isso leva as pessoas ao cinema) conseguiu fazer subir a receita do filme muito acima dos três milhões de dólares, distanciando-o 65 milhões de dólares do filme do topo da tabela (outra sequela: "Idade do gelo2") e colocando-o num misérrimo 10º lugar dos filmes mais vistos no fim de semana passado nos EUA . Para ajudar à festa o filme entrão imediatamente para a 66ª posição dos piores filmes de sempre conseguindo uma média de 2.8/10 pelos utilizadores de um dos melhores sites de cinema de sempre, o IMDB ( www.imdb.com)

Fica então a ideia que o único instinto que Sharon Stone possui é mesmo o instinto para os maus papéis e esse sim é o verdadeiro instinto que se poderá revelar fatal.

PS: Como toda a regra possui pelo menos uma excepção, não poderia deixar de referir aqui o excelente filme "Flores partidas " realizado em 2005 por Jim Jarmusch e co-protagonizado por Bill Murray.