sábado, maio 06, 2006

Serei menos médico hoje do que o era ontem?

Na passada sexta feira (06/05/05) a tão esperada nota do exame realizado no dia 22 de Abril finalmente saiu e lá estava eu a olhar para um número de dois dígitos tal como Antunes olhou pela primeira vez para a sua Judite:
“O Antunes arranjava sorrisos, gostava de dizer qualquer coisa para quando há daqueles momentos, queria sobretudo ser como um de quatro àquela mesa. Ele já o tinha reparado: só sabia estar atrás, no passado, até ontem, o mais tarde até entrar naquela sala. Tudo o mais era imprevisto, não estava no seu programa, ele bem não queria ter vindo. Mas já que estava, ele gostava de poder estar. Nunca na sua vida fizera um esforço tão grande como agora.
Inútil. A primeira vez é a primeira vez. Amanhã fará melhor. E sorria-se. Não sabia porquê, mas sorria-se. Sorria-se indistintamente…”(
Nome de Guerra de Almada Negreiros ).

Chumbei à frequência. Nunca fui uma pessoa muito preocupada com as notas, mas a experiência de uma nota negativa apanhou-me de surpresa, e sendo uma cadeira de Clínica Médica, a surpresa foi dupla (é sem dúvida a minha preferida). Passei o dia a questionar as minhas qualidades de pessoa, de aluno e de futuro médico. Na tentativa de perceber o que me tinha acontecido só chegava a duas conclusões: se por um lado a elevada taxa de reprovações justificava o acontecimento, por outro não conseguia arranjar justificação para a aprovação que outros colegas obtiveram na dita disciplina. Ou seja estava já a cometer o pior dos vícios e aquele que mais tento evitar: tentar compreender a situação olhando para os outros, esquecendo aquilo em que eventualmente poderia ter falhado. Por vezes faz-se luz e consigo ver a situação de uma forma muito clara mas essa clareza é substituído pela angústia da frustração e da inoperância. Sou por vezes invadido por uma sensação de incapacidade e até inutilidade(já está a tornar-se o hábito das sextas feiras). Aquela nota não me sai da cabeça. Ainda tento perceber onde errei.

São 2:36 do sábado seguinte.
“Hey, kids- look at this
it´s the fall of the world´s own
optmist”

Canta agora Aimee Mann no leitor de CD. Espero que amanhã esta melodia seja substituída pelo “Pick yourself up”. Porque a vida é assim. Caímos e levantámo-nos.